Ao longo da história, diferentes governos tentaram resolver um dos mais graves problemas brasileiros e que explica – em grande medida – a desigualdade social que ainda marca o país: o pleno acesso à educação de qualidade. No ano em que completamos 200 anos como nação independente, vemos que o Brasil conseguiu diversificar sua economia com o crescimento de todos os setores de atividades, como indústria, serviços, agronegócio e comércio; urbanizou quase 85% da sua população; interiorizou o desenvolvimento; colocou o seu PIB entre os 10 maiores do mundo, entre outros avanços, mas continua modesto na resposta aos desafios que dizem respeito à atratividade e qualidade do sistema de ensino. De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, os estudantes brasileiros apresentam resultado abaixo da média de outros países.
Se os indicadores antes da pandemia já eram preocupantes, a situação se agravou depois dela. Os dois anos de escolas fechadas causaram um impacto que ainda está sendo dimensionado, mas que já dá sinal de alerta. Segundo o Atlas das Juventudes, 54% dos alunos estão sem motivação para estudar. Enquanto isso, o Anuário Brasileiro de Educação de 2021 mostrou que quase 20% dos jovens de 16 anos não haviam concluído o Ensino Fundamental e 30% dos jovens de 19 anos não terminaram o Ensino Médio. Esse quadro geral nos leva à pergunta: o que podemos fazer para contribuir no avanço da educação?
O fato é que seguimos ensinando as nossas crianças, adolescentes e jovens de modo muito próximo ao que fazíamos há 40 anos, ao passo que as transformações tecnológicas disponíveis a esses mesmos estudantes os colocam num outro universo de mudanças comportamentais. A forma preponderantemente expositiva de transmitir ensinamentos não é mais aceita por alunos que estão conectados e que têm à disposição conteúdos provocativos e instigantes, personalizados e responsivos, apresentados de forma dinâmica, interativa e em tempo real.
Felizmente temos um norte animador. A chave para a mudança da Educação Brasileira está na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2018, que começou a ser implementada em 2021, introduzindo o conceito de competências e habilidades que se esperam que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade básica. As 10 competências gerais devem estar contempladas em todas as etapas da educação: Conhecimento; Pensamento científico, crítico e criativo; Repertório Cultural; Comunicação; Cultura Digital; Trabalho e Projeto de Vida; Argumentação; Autoconhecimento e Autocuidado; Empatia e Cooperação, além de Responsabilidade e Autonomia.
Muito além do senso comum que enxerga o empreendedorismo unicamente pelo viés econômico, de abertura de uma empresa, a Educação Empreendedora proporciona ao aluno a oportunidade de desenvolver os quatro pilares da educação propostos pela Unesco: “Aprender a conhecer”, isto é, adquirir a capacidade de inquirir a realidade; “Aprender a fazer”, para poder agir sobre o meio envolvente; “Aprender a viver juntos”, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas e “Aprender a ser”, via essencial que integra as três precedentes.
O Sebrae atua há mais de duas décadas para contribuir com a difusão da Educação Empreendedora no Brasil. A instituição apoia mais de 10 mil instituições de ensino distribuídas por todo o território nacional, em mais de 5 mil municípios, apoiando gestores, professores e alunos com a introdução desse conceito em sala de aula. Acreditamos que a Educação Empreendedora é capaz de desenvolver competências integradas à construção de projetos de vida, colaborar para o desenvolvimento integral de estudantes e estimular o seu protagonismo em diversas faixas etárias. A sua prática, de modo transversal ao conteúdo programático, pode ser a resposta que gestores, professores e pais buscam para recuperar o interesse dos estudantes e conferir propósito para as crianças, adolescentes e jovens que se sentem desconectados da escola, principalmente agora depois das transformações aprofundadas pela pandemia. Nesse contexto, temos atuado em parceria com os gestores públicos da educação, nos diferentes níveis, desde o Ministério da Educação, até as secretarias estaduais e municipais de educação, por meio de suas instâncias representativas – Consed e Undime, respectivamente.
Ela é capaz de superar a pobreza, impulsionar a competitividade da nossa economia, reduzir os índices de violência, gerar inovação, promover o desenvolvimento sustentável, fortalecer a democracia, entre outras conquistas. Para sair da constrangedora situação de desigualdade e restrição de acesso à oportunidades, o Brasil, com seu incomparável potencial, precisa encarar o desafio de avançar na qualidade do seu ensino sendo a Educação Empreendedora um poderoso instrumento fundamental nessa transformação. Dessa forma, seremos capazes de fazer com que esta geração, agora estudante, encontre sentido e esteja preparada para protagonizar a condução do nosso país e o seu papel no pleno desenvolvimento.